domingo, 23 de julho de 2017

Teoria do Lateral Esquerdo


Dia desses eu estava no carro de um amigo dos tempos da Faculdade de Comunicação. Voltávamos de uma reunião em São Gonçalo. Tinha uma ideia para ativar a marca de uma rede de lá, lembrei que esse amigo era especialista nesse setor e chamei para montar o projeto comigo.

Fomos e voltamos conversando sobre o ponto que nossas vidas estavam. Eu comentei da minha total apatia e estagnação, tanto profissional nesse mercado de crise quanto amorosa. Ele foi contando também da vida dele e dos problemas e neuras. E foi ali, na Niterói-Manilha com a garagem da 1001 de um lado e ironicamente com o Estaleiro Esperança do outro que desenvolvi num estalo, em um par de sinapses e um punhado de falas do colega, uma teoria que agora tentarei compartilhar com vocês. Chama-se Teoria do Lateral Esquerdo e de como eu me encaixo totalmente na minha própria teoria.

Para os mais novinhos é preciso explicar que o Futebol é tipo um League of Legends offline, mas em ambos os esportes cada jogador de um time tem uma função específica. Nem todo mundo precisa fazer gol, isso é uma função do time em si, ok, mas o atacante tem essa responsabilidade. O Lateral Esquerdo não.

O Lateral é uma função meio ingrata no jogo. Ele tem que saber defender para ajudar os zagueiros, dar cobertura aos volantes, criar opções para os meias e cruzar para os atacantes. O Lateral é o que tem que entender um pouco de todos os fundamentos, se a bola caiu no canto dele é responsabilidade dele resolver, seja ataque ou defesa.

E citei lateral esquerdo porque canhoto sempre é um pouco mais raro de acontecer. Logo um bom lateral esquerdo é um artigo valioso, peça importante e que desequilibra qualquer elenco. Só que sempre tem um porém.

O Lateral Esquerdo pode ser amado, idolatrado e ganhar alguma rebarba de sucesso, isso é verdade. Mas quem fatura milhões de Euros anunciando shampoo contra Caspa não é o Lateral Esquerdo, é o Atacante. E no meu atual/último relacionamento e na minha recente fase profissional eu vivi essa experiência sofrida e ingrata que é ser lateral esquerdo.

Passei uma noite com Veronica e me apaixonei. Sim, sim, trouxa, eu sei. Mas calma aí, a história não acabou, não é tão simples assim. Já havia uma relação sexualmente tensa a mais de um ano, muitos desencontros e tal. Quando a gente se viu foi um misto de sorte de oportunidade, impulso da parte dela e burrice extrema da minha de saber que iria fazer papel de trouxa.

Mas o fato é que antes e depois desse encontro já havia no meu celular diversas mensagens de "você podia estar aqui". "Netflix, edredom e você". Ou seja, nem tudo era exclusivamente sexual. Guarde essa informação, será útil mais à frente. E eu, eterno canceriano com mais de 3 anos solteiro e acumulando decepções atrás de decepções, deixei a portinha aberta.

Mas o fato é que Veronica me curtia, de verdade, mas não o bastante para bancar um relacionamento. Esse limbo é cruel. É aí que entra a Teoria do Lateral Esquerdo. Eu constantemente ouço (e vejo que é verdade) que desempenho um papel legal na vida dos outros. Em suma, eu me vejo sim como aquele titular absoluto. Mas nunca, never, jamé, niet eu tenho ou desperto a habilidade necessária para vestir a 10.

Não foi a primeira vez e certamente não será a última. Eu vejo isso acontecendo em tantos ramos da minha vida que eu nem sei mais contar. Das diversas seleções de emprego que nunca fico na primeira fase, mas nunca passo. Dos diversos projetos que sou chamado pra dar pitaco, mas nunca para conduzir. A minha onda tem sido esse quase. E a sensação depois de mais de três décadas disso é que todo esforço é inútil. A sensação é eterna de que vou nadar, nadar e vencer o mar sim, porém morrer na praia.

Aquela pessoa que gostam de olhar o Instagram e dizer "que homão/mulherão da porra", "tá gato(a)" etc e rir do que a pessoa fala no Facebook, na mesa de bar dizer que é inteligente e tal, mas que ninguém banca aparecer de mãos dadas na rua. E além disso, a galera do "você é gato" morre de medo de pesar o mesmo que essa pessoa.

Veronica bota a culpa nela mesma, que não é um relacionamento que ela quer no momento. Isso é uma meia verdade. O que a BR-101 inteira sabe é que se aparecer alguém que ela queira se relacionar ela vai e pronto. Não é questão de momento, é questão de ser quem sou mesmo. Uma das últimas coisas que falei pra ela foi isso e como resposta tive o silêncio. Talvez nesse momento isso já esteja acontecendo.

Aquela coisa de se esforçar até dar certo, tem que tentar vamos lá etc etc etc tem limite. É preciso se esforçar sim, mas é preciso entender que uma hora ou outra vamos dar murro em ponta de faca. Quem planeja vir aqui dizer que uma hora vai acontecer por favor nem faça isso, porque tudo, sentimentalmente ou profissionalmente, está regredindo.

Lembra daquela história que eu disse que não era só uma relação sexual? Pois é, o que aconteceu é uma falta de responsabilidade afetiva absurda, e que ainda foi transformada em auto ilusão da minha parte. Eu me sentia bem apaixonadinho, ficava feliz do celular apitar e aparecer o rosto dela, correr para pegar o fone.

Mas a lição que ficou desse meu relacionamento e das últimas aventuras profissionais é essa, é o que eu e muita gente por aí precisa aceitar é que é isso mesmo, tem gente que nasce pra lateral esquerdo. 

E tem gente que fatura vendendo shampoo anti caspa.

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