domingo, 19 de outubro de 2014

Não, você não irá achar alguém que te mereça (e isso é bom).


Vamos ser claros: você não é um troféu. Você não é um prêmio Nobel. Você não é nem a Taça Guanabara. Muito menos o Grammy e olha que até o CPM22 já levou um. Não me entenda por mal, eu não quero te diminuir, quero apenas te avisar que aquele papo consolativo que você ganhou após um fora não tem efeito prático nenhum.

Você foi dispensado por alguém. Até aí o mundo continuou fazendo seu movimento de rotação normalmente, exceto por seu cérebro insistir e se lembrar da frase que a pessoa disse justo na hora que você quer dormir. Você tomou outro fora e “é fase”. Então aquela foda fixa resolveu se fixar em outro alguém e aí você começa a perceber que “fase” é um conceito relativo e uma volta completa de Plutão em torno do Sol também é uma fase, o que faz você não só se desesperar como perceber que sabe uns lances de astronomia bem inúteis pra sua vida.

Aí, a Pessoa de Boas Intenções, doravante PBI, não quer te ver mal, acha que você deveria levantar, sacodir a poeira e dar a volta por cima. Então a PBI, pode ser sua mãe, sua melhor amiga, seu parceiro de sinuca, o carcereiro do turno da noite... vem e sapeca essa, nossa primeira frase  a ser desconstruída nesse amável (ou quase) blog.

Você vai achar alguém que te mereça.

Merecimento em um dos significados do dicionário significa habilidades e competências. Tem uma política mecânica aqui presente que não existe no mundo real. Se a gente trabalha duro para vender muitos livros e consertar muitos sofás e por isso recebe mais dinheiro, podemos comprar a Ferrari, nós merecemos essa Ferrari. Mas nos relacionamentos não adianta só levar a Ferrari para jantar num restaurante caro. Quem merece algo faz mais pontos. Ou mais dinheiro. Ou teve mais votos para o Grammy. MERECER tem toda aquela aura de reconhecimento indubitável, que pode servir para te dar um status na sociedade como um todo, mas a sociedade como um todo não tem nada a ver com as preferências amorosas daquela menina um período abaixo do seu que insiste em ser evasiva com seus flertes.

Nos relacionamentos não estamos tratando de uma gincana onde a quantidade de carinho e atenção vai sendo acumulada e ao atingir uma determinada pontuação você troca nos postos de atendimento os cupons de carinho por uma namorada. Você pode ser o cara mais legal da face da Terra, mas não tem olhos verdes, que pena. Você pode ser podre de rico, mas é gordo. Você pode gostar muito da pessoa e tratá-la como se trata uma divindade, mas ela pode não querer se envolver com alguém que more em Brasília. Você pode ser gordo e ela amar gordinhos, cha-ching, bingo! Você pode ser um alien e ela uma caçadora de UFOs e tudo estranhamente se completar e no final ela perceber que curte mesmo a galera de Alfa-Centauro, vocês de Aldebaran são meio pé no saco.

O que estou querendo dizer é que relacionamentos são muito menos criados por meritocracia e mais por construção. É como aquele velho combate do que é Arte e o que não é. Há quem goste de Romero Brito por mais que você torça o nariz. Vocês curtem uns filmes chatos de criancinhas iranianas perdendo sapatos e eu tô querendo distância

(sério mesmo gente, essa história não cabia num curta metragem?)

Então aquele troço de dar carinho e atenção e se mostrar uma boa pessoa é muito válido, afinal ninguém quer ser mal-tratado, mas não é isso que vai criar um relacionamento. Aliás, relacionamentos amorosos acontecem de formas tão aleatórias que seria leviano demais levantar um determinado padrão. Quando a gente diz que “você vai achar alguém que merece você”, a gente está dizendo que todas as outras pessoas são canalhas cretinas que dispensaram você porque não sabem reconhecer seu valor. Não é bem assim.


Ou você concorda que quando dispensa alguém teve suas razões ou é um canalha cretino meio vilão de novela ruim?

Nenhum comentário:

Postar um comentário