terça-feira, 21 de outubro de 2014

Tenho parentes no Facebook, e agora?



As pessoas me param na rua e perguntam “Adaílton, como é que a gente lida com parentes no facebook?” e eu resolvi escrever sobre isso.

Na verdade ninguém pergunta isso para mim. Eu é que gosto de imaginar que as pessoas perguntam. Na verdade mesmo eu gosto de imaginar que saio de casa e tem um batalhão de jornalistas prontos pra me fazer perguntas. Eu imagino um púlpito assim que deixo o prédio, cheio de microfones. Na real eu de vez em quando começo a responder na minha portaria erguendo a mão com veemência.

O Senhor Manuel, porteiro, tem certeza que sou louco. Não o culpo. Mas enfim.

Sou uma criança que foi criada no começo dos 90 e quando se tornou adolescente em 1999 já tínhamos internet mas não tínhamos as redes sociais como hoje. Isso significava que a gente tinha o grupinho do colégio, chegando no prédio era o grupinho do prédio e fim de semana era o grupinho de primos na festa de família. Basicamente os primos sabiam que você mijou na cama em Cabo Frio em 1993, os do prédio que toda noite tinha briga na sua casa e os do colégio te chamavam de Batoré. Agora nada define melhor do que CAOS.

O Facebook (e o finado Orkut inicialmente) deram início a uma verdadeira revolução de podres, um Wikileaks da vida secreta das pessoas. Aquela sua tia-avó que estava acostumado a encontrar você duas vezes por ano sempre muito arrumadinho e educado, aí resolve que vai fazer um facebook e a primeira coisa que o feed dela resolve mostrar é: “Fulano de Tal marcou Adailton Neves e mais 3 pessoas em uma foto” e lá está você em algum bloco de carnaval com duas ruivas vestidas de diabo e uma lata de cerveja na mão. E aí sua tia perde aquela imagem de bom moço que tinha de você, já que se a lata está numa mão a outra claramente está na bunda da ruiva número dois.

E ela aproveita pra reclamar com sua mãe.

E você nunca mais ganhará meias no natal.

E não podemos deixar de esquecer o que é a maravilha quando a mãe de algum amigo aprende a usar o scanner e começa a postar fotos antigas dele, algumas bastante vexatórias que levam apenas alguns nanossegundos para serem salvas.

O parente distante também é aquele que resolve fazer perguntas pra você. Em vez de usar o inbox como qualquer pessoa normal, ele vai na sua última postagem. Então você está lá escrevendo sobre a questão do impasse macroeconômico na União Européia quando de repente chega a tia Janete e “ADAÍLTON A TIA MARCINHA CHEGOU?” (Sim, em caps e não, ela não tinha chegado).

Aliás, existe um certo padrão de comportamento de comentários em foto que gostaria de compartilhar com vocês:

Foto com 2 pessoas: “Dupla dinâmica! Rs beijos em todos aí da casa fica com Deus”
Foto com 3 pessoas: “Trio parada dura! Rs beijos em todos aí da casa fica com Deus”
Foto com 4 pessoas: “Quarteto fantástico! Rs beijos em todos aí da casa fica com Deus”
Foto com 5 ou mais pessoas: “Turma do Barulho! Rs beijos em todos aí da casa fica com Deus”
Foto com comida: “Quero um pedaço ein! Rs beijos em todos aí da casa fica com Deus”
Foto turística: “Mas nada de vir aqui em casa! Rs beijos em todos aí da casa fica com Deus”

Portanto, para viver nesse novo mundo cão onde você não consegue mais esconder as suas saídas de suas tias existem apenas duas soluções: ou você não aceita parentes na internet e perde as ceias de Natal ou você passa a assumir o que é de verdade para todo mundo, aquele bêbado cretino com a mão na bunda da ruiva diaba. Ah, que saudade de você.

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